quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Ex-governador Ronaldo Cunha Lima renuncia mandato de deputado e diz que "como mero cidadão é que terei de ser tratado"

O deputado federal Ronaldo Cunha Lima entregou nesta quarta-feira, 31, à Secretaria Geral da Mesa da Câmara Federal carta onde pede renúncia do cargo. No documento, diz que a decisão é “irrevogável e irretratável” (veja íntegra abaixo). O documento, que o deputado chama de carta aberta ao povo da Paraíba, foi entregue ao deputado Nárcio Rodrigues (PSDB-MG), que presidia a sessão plenária na Câmara dos Deputados esta tarde. Ronaldo Cunha Lima justifica na carta a decisão: "À Paraíba, a que dediquei toda a minha vida, entrego meu destino. A Paraíba me julgará, soberanamente, através de seu Tribunal do Júri". Mais adiante, o deputado reforça: "Como mero cidadão é que terei de ser tratado". E finaliza: "Ronaldo Cunha Lima, agora apenas brasileiro com muita esperança. E paraibano, com muito orgulho".
O deputado também pediu a leitura em plenário e comunicação da decisão à presidente do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie. O STF havia marcado para a segunda-feira 5 julgamento do Caso Gulliver, onde Ronaldo Cunha Lima figura com réu acusado de atirar contra seu antecessor no Governo do Estado, Tarcísio Burity. A decisão já provocou repercussões junto ao Partido Democratas, já que o primeiro suplente é o vereador Walter Brito Neto, que deixou a legenda para se filiar ao PRB, partido aliado do prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital.
Veja íntegra da carta:
Senhor Presidente:
Venho, através desta, formalizar minha renúncia definitiva e irretratável ao mandado de Deputado Federal pelo Estado da Paraíba. Quero, com esse gesto extremo, despir-me de quaisquer prerrogativas para assumir, apenas como cidadão, episódios particularmente dolorosos de um passado já remoto no tempo, mas ainda muito presente em minha vida e minha consciência, por seus desdobramentos de sofrimento e de dor. Não é a primeira vez que, no enfrentamento desse episódio, abro mão de prerrogativas. Ainda no Senado, eu o pedi formalmente e de público a todos os meus pares, ao defender o que para mim é princípio fundamental: a imunidade parlamentar deve cingir-se exclusivamente a fatos ligados ao exercício do mandato. Pedia para ser processado e julgado. Queria enfrentar o Júri Popular, sem quaisquer imunidades.
Serei julgado não por atos da função pública, mas por gestos de cidadão. Como mero cidadão é que terei de ser tratado. Por esses gestos já me penitenciei junto aos que fiz sofrer. Deus me permitiu receber do adversário de outras épocas o gesto de perdão, que nos permitiu estabelecer a paz entre dois corações e vencer as atribulações de duas histórias. A reconciliação muitas vezes desejada, sinceramente querida com toda a força de meu coração, e felizmente alcançada, não me tornou menos responsável por meus atos. O povo da Paraíba, em repetidas ocasiões, distinguiu, com clareza inequívoca, a dramaticidade de um gesto e a história de uma vida, entre o momento esparso e isolado de um minuto e a prática consolidada de uma existência. Mas até para me reconciliar comigo mesmo e com minha história devo enfrentar, diante de meu próprio povo, toda a dor dessa circunstância. À Paraíba, a que dediquei toda a minha vida, entrego meu destino.
A Paraíba me julgará, soberanamente, através de seu Tribunal do Júri. Agradeço aos paraibanos a confiança de mais um mandato, do qual me despeço com a proclamação explícita de homenagem à Justiça e ao Tribunal do Júri Popular. Em todas as tribunas que a vida me permitir, continuarei entoando meu mais profundo respeito ao Parlamento brasileiro e a minha mais profunda convicção de que a imunidade parlamentar, com todos os seus desdobramentos, deve resguardar exclusivamente atos relativos ao exercício do mandato.
Com os meus mais sinceros agradecimentos, e em sinal de coerência, Ronaldo Cunha Lima, agora apenas brasileiro com muita esperança. E paraibano, com muito orgulho.

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